Três Estudos para uma Crucificação, de Francis Bacon
Três Estudos para uma Crucificação foi pintado em duas semanas, na expectativa de criar um clímax adequado para a retrospectiva do artista na Tate Gallery de Londres, no ano de 1962. |
Francis Bacon (28/10/1909 - 28/04/1992) foi um pintor anglo-irlandês de pintura figurativa. Seu trabalho é mais conhecido como audaz, austero e frequentemente grotesco ou imagem de pesadelo.
Este artista irlandês de nascimento, tratou com uma extraordinária complacência alguns temas que continuam a chocar a nossa vida em grupo. As fantasias masoquistas, a pedofilia, o desmembramento de corpos, a violência masculina ligada à tensão homoerótica, as práticas de dissecação forense, a atração pela representação do corpo e, no geral, tudo o que está diretamente ligado à transgressão seja relacionada com a religião, com o sexo ou qualquer tabu, foram as peças com as quais Bacon construiu a sua visão "modernista" do mundo.
Nasceu em Dublin e sofria de asma. Esta debilidade irritava seu pai, um homem rude e violento, que o costumava chicotear para o "fazer homem". Teve uma infância muito difícil, que sempre o influenciou na sua arte. Sua primeira exposição, em 1945, provocou um choque e não foi bem recebida, provocando repulsa do que admiração nas pessoas.
Como homem do seu tempo, Bacon transmitiu a ideia de que o ser humano, ao conquistar e fazer uso da sua própria liberdade, também liberta a besta que existe dentro de si. Pouca diferença faz dos animais irracionais, tanto na vida - ao levar a cabo as funções essenciais da existência - como na solidão da morte; representando o homem como um pedaço de carne.
O que ajudou a selar a fama do artista como pintor figurativo foi a aquisição da obra por um dos mais importantes museus de arte moderna dos Estados Unidos, o Guggenheim.
Bacon admitiu que pintou o quadro em um momento de embriaguez e ressaca e, apesar de ateu convicto, o artista já havia usado o tríptico tradicional dos altares em outras obras. Anteriormente, o pintor também já havia usado o tema "crucificação". O artista via a crucificação como um símbolo instituído da violência e da brutalidade humanas, o que o levou a ressaltar o aspecto violento da situação, como a representação da vítima feito carne de açougue.
A mortalidade humana é destacada na obra tirando a crucificação de sua posição central costumeira. O quadro não apresenta nenhum sentido cristão de esperança ou ressurreição, apenas ansiedade e medo.
4 detalhes de "Três Estudos para uma Crucificação" se destacam:
1 - Homem em pose canhestra
Bacon detestava as interpretações narrativas de suas obras, porém alguns críticos sugeriram que esta figura representa o pai do artista, oficial do exército e treinador de cavalos de corrida, expulsando o filho ao saber de sua homossexualidade. A distorção da figura contribui para a impressão de maldade.
2 - Corpo mutilado
O aspecto visceral é comum aos quadros de Bacon. Nesta obra, a caixa torácica exposta, mutilada, do crucificado que desce da cruz parece uma peça de carne em um açougue. O artista afirmou que se inspirou em cenas de matadouros, o que vale como um lembrete de que os humanos são feitos de carne.
3 - Forma obscura
A presença vouyerística de um observador é sugerida pela silhueta. A imagem tem um caráter enigmático, já que lembra os santos presentes nas representações tradicionais da crucificação, assim como pode sugerir a morte ou a alma que deixa um corpo morto.
4 - Figura central
A imagem sangrenta de um indivíduo bulboso deitado em posição fetal sobre o divã no painel central é a representação da vulnerabilidade humana. A figura parece se retorcer de dor e não está claro se isso é uma consequência física ou existencial. Isso pode se referir, também, às inclinações sadomasoquistas do pintor.
Ficha Técnica: Três Estudos para uma Crucificação
Autor: Francis Bacon
Onde ver: Guggenheim, Nova York, EUA
Ano: 1962
Técnica: Óleo com areia sobre tela
Tamanho: 1,98m x 1,45m (cada painel)
Movimento: Pintura Figurativa Européia.
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