Retrato
Imaginário do Marquês de Sade, de Man Ray
Como não existe retrato autenticado de Sade, Man Ray inventou sua aparência livremente. O resultado costuma ser comparado à imagem de André Breton quando velho. |
Emanuel Rudzitsky, conhecido artisticamente como Man Ray (27/08/1890 - 18/11/1976) foi um fotógrafo, pintor e anarquista.
Foi um dos nomes mais importantes do movimento da década de 1920, responsável por inovações artísticas na fotografia. Foi estudante de arquitetura, engenharia e artes plásticas, iniciando-se na pintura ainda jovem. Em 1915 conhece o pintor francês Marcel Duchamp, com quem funda o grupo dadá nova-iorquino e em 1921 descobre o movimento surrealista na pintura. Trabalha como fotógrafo para financiar a pintura e, com a nova atividade, desenvolve sua arte, a raiografia ou fotograma, criando imagens abstratas mas com a exposição à luz de objetos previamente dispersos sobre o papel fotográfico. Como cineasta, produziu filmes surrealistas com o auxílio de uma técnica chamada solarização, pela qual inverte parcialmente os tons da fotografia. Mudou-se para Califórnia em 1940, lecionando aulas sobre fotografias. Em 1963 retorna para França e publica sua autobiografia denominada "Auto-Retrato".
O Marquês de Sade, que aparece como referência na obra de hoje, teve diversos textos condenados durante o século XIX, mas encontrou novos leitores na vanguarda parisiense nas primeiras décadas do século XX. O Marquês escrevia sobre sexualidade e tinha preferências pelo sadomasoquismo. A obra apresentada hoje é um reconhecimento da dívida de Man Ray com o famoso pornógrafo.
Como não existe retrato autenticado de Sade, Man Ray inventou sua aparência livremente. O resultado costuma ser comparado à imagem de André Breton quando velho, mas, estranhamente, considerando o fascínio do pintor pelo Marquês, o retrato é impassível, sem referências eróticas ou de sadomasoquismo.
Apenas os lábios cheios e vermelhos de Sade tem um toque de sensualidade, enquanto o resto da imagem foi pintada como se fosse construída com blocos de pedra, fazendo eco com a fachada da Bastilha, onde Sade esteve preso por vários anos.
O Marquês é pintado de perfil e de seu ombro sai um caminho que leva até a Bastilha. A obra parece conter uma referência à tumultuada tomada da fortaleza no ano de 1789 e à sua posterior demolição, na forma de pedras lançadas ao chão por guindastes de madeira.
Segundo o folclore local, o Marquês de Sade incitou os acontecimentos daquele verão gritando de sua janela que os prisioneiros encarcerados na fortaleza estavam sendo assassinados, fator que teria provocado a rebelião. Depois disso o Marquês foi transferido para o asilo de doentes mentais de Charenton, na noite anterior à tomada da Bastilha.
5 detalhes de "Retrato Imaginário do Marquês de Sade" se destacam:
1 - Rosto do Marquês
Apresentado como uma estátua, apenas os olhos injetados de sangue e os lábios vermelhos de Sade humanizam o rosto, que por sua vez aparece rachado e abatido, como o edifício. São exibidas marcas de bala na fronte do ícone, o que o torna histórico e devastado.
2 - Direção do olhar
Pela linha de visão de Sade, parece que ele não olha para a Bastilha e sim o Marquês dirige um olhar imparcial para o céu acima das torres da fortaleza.
3 - Bandeira da França
Embora não esteja na pintura de maneira efetiva, o azul dos olhos de Sade contrasta com o branco tingido de sangue, evocando a bandeira tricolor da França e atraindo o olhar do observador para o centro da composição.
4 - Repetição do vermelho
O vermelho do olho se repete nos lábios de Sade e na roda da carruagem, além do muro da fortaleza, ao fundo. Essa repetição guia o olhar do observador pelo plano da imagem.
5 - Sensação de distanciamento
As linhas quebradas dos guindastes de madeira colocam a área fora de foco, criando assim uma sensação de distanciamento do observador.
Ficha Técnica: Retrato Imaginário do Marquês de Sade
Autor: Man Ray
Onde ver: Coleção Particular
Ano: 1938
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 60cm x 50cm
Movimento: Surrealismo
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