sábado, 26 de outubro de 2013

365 DIAS DE ARTE

Retrato Imaginário do Marquês de Sade, de Man Ray

Como não existe retrato autenticado de Sade, Man Ray inventou sua aparência livremente. O resultado costuma ser comparado à imagem de André Breton quando velho.

Emanuel Rudzitsky, conhecido artisticamente como Man Ray (27/08/1890 - 18/11/1976) foi um fotógrafo, pintor e anarquista.
Foi um dos nomes mais importantes do movimento da década de 1920, responsável por inovações artísticas na fotografia. Foi estudante de arquitetura, engenharia e artes plásticas, iniciando-se na pintura ainda jovem. Em 1915 conhece o pintor francês Marcel Duchamp, com quem funda o grupo dadá nova-iorquino e em 1921 descobre o movimento surrealista na pintura. Trabalha como fotógrafo para financiar a pintura e, com a nova atividade, desenvolve sua arte, a raiografia ou fotograma, criando imagens abstratas mas com a exposição à luz de objetos previamente dispersos sobre o papel fotográfico. Como cineasta, produziu filmes surrealistas com o auxílio de uma técnica chamada solarização, pela qual inverte parcialmente os tons da fotografia. Mudou-se para Califórnia em 1940, lecionando aulas sobre fotografias. Em 1963 retorna para França e publica sua autobiografia denominada "Auto-Retrato".
O Marquês de Sade, que aparece como referência na obra de hoje, teve diversos textos condenados durante o século XIX, mas encontrou novos leitores na vanguarda parisiense nas primeiras décadas do século XX. O Marquês escrevia sobre sexualidade e tinha preferências pelo sadomasoquismo. A obra apresentada hoje é um reconhecimento da dívida de Man Ray com o famoso pornógrafo.
Como não existe retrato autenticado de Sade, Man Ray inventou sua aparência livremente. O resultado costuma ser comparado à imagem de André Breton quando velho, mas, estranhamente, considerando o fascínio do pintor pelo Marquês, o retrato é impassível, sem referências eróticas ou de sadomasoquismo.
Apenas os lábios cheios e vermelhos de Sade tem um toque de sensualidade, enquanto o resto da imagem foi pintada como se fosse construída com blocos de pedra, fazendo eco com a fachada da Bastilha, onde Sade esteve preso por vários anos.
O Marquês é pintado de perfil e de seu ombro sai um caminho que leva até a Bastilha. A obra parece conter uma referência à tumultuada tomada da fortaleza no ano de 1789 e à sua posterior demolição, na forma de pedras lançadas ao chão por guindastes de madeira.
Segundo o folclore local, o Marquês de Sade incitou os acontecimentos daquele verão gritando de sua janela que os prisioneiros encarcerados na fortaleza estavam sendo assassinados, fator que teria provocado a rebelião. Depois disso o Marquês foi transferido para o asilo de doentes mentais de Charenton, na noite anterior à tomada da Bastilha.


5 detalhes de "Retrato Imaginário do Marquês de Sade" se destacam:


1 - Rosto do Marquês
Apresentado como uma estátua, apenas os olhos injetados de sangue e os lábios vermelhos de Sade humanizam o rosto, que por sua vez aparece rachado e abatido, como o edifício. São exibidas marcas de bala na fronte do ícone, o que o torna histórico e devastado.


2 - Direção do olhar
Pela linha de visão de Sade, parece que ele não olha para a Bastilha e sim o Marquês dirige um olhar imparcial para o céu acima das torres da fortaleza.


3 - Bandeira da França
Embora não esteja na pintura de maneira efetiva, o azul dos olhos de Sade contrasta com o branco tingido de sangue, evocando a bandeira tricolor da França e atraindo o olhar do observador para o centro da composição.


4 - Repetição do vermelho
O vermelho do olho se repete nos lábios de Sade e na roda da carruagem, além do muro da fortaleza, ao fundo. Essa repetição guia o olhar do observador pelo plano da imagem.


5 - Sensação de distanciamento
As linhas quebradas dos guindastes de madeira colocam a área fora de foco, criando assim uma sensação de distanciamento do observador.




Ficha Técnica: Retrato Imaginário do Marquês de Sade


Autor: Man Ray
Onde ver: Coleção Particular
Ano: 1938
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 60cm x 50cm
Movimento: Surrealismo

PROJETO "REINVENTANDO" - PROFª TATIANE SITTA DE AZEVEDO SOUSA


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

365 DIAS DE ARTE

O Milagre de São Marcos, de Tintoretto

A grande composição retrata a história do milagre de São Marcos ao libertar o escravo de um nobre da Provença que desobedecera seu senhor ao visitar o santuário de São Marcos.

Tintoretto, como era conhecido Jacopo Robusti (1518 - 31/05/1594) foi um dos pintores mais radicais do Maneirismo. Por sua energia fenomenal em pintar, foi chamado "II Furioso", e sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. Seu pai, Battista Comin, era "tintore" (tingia seda), o que lhe valeu o apelido.
A obra de hoje, feita para a "Scuola Grande di San Marco", foi considerada o divisor de águas na carreira do pintor. Na época, a pintura causou alvoroço em Veneza devido à natureza inédita de duas imagens e inicialmente foi rejeitada e devolvida. A obra inaugura um estilo considerado mais dramático do Maneirismo.
A grande composição retrata a história do milagre de São Marcos ao libertar o escravo de um nobre da Provença que desobedecera seu senhor ao visitar o santuário de São Marcos, em Lyon. A punição decretada pelo nobre, que encontra-se sentado no alto, à direita, foi a cegueira e a mutilação.
O corpo do escravo encontra-se estendido no chão, no centro da composição, cercado por observadores enquanto um homem se prepara para perfurar seu olho com uma estaca de madeira. Ao mesmo tempo, outro homem exibe os instrumentos de tortura.
Exatamente nesse momento surge São Marcos, vindo do alto para salvar o condenado. As figuras em primeiro plano contrastam com a serenidade da arquitetura clássica ao fundo que cerca um jardim - há ainda duas figuras no portão, totalmente alheias ao que se passa ali perto. Essas figuras aumentam a tensão e dramaticidade dos eventos que estão ocorrendo em primeiro plano.



3 detalhes de "O Milagre de São Marcos" se destacam:


1 - Pigmentos caros
Tintoretto adaptava seu estilo ao tipo de pintura e conforme o cliente. Dessa forma, pigmentos caros, como o azul-ultramar presente na obra, só eram usados amplamente em obras de clientes aristocráticos. Em geral, as cores mais frias eram substituídas por vermelhos e dourados.


2 - Texturas
O contraste de texturas utilizado pelo pintor fica visível no brilho do capacete, na solidez do martelo e nos estilhaços da estaca contra a carne branca e brilhosa do escravo deitado no chão.


3 - Poses dinâmicas
Poses dinâmicas, retorcidas e encurtadas como a figura de vermelho com costas e braços musculosos lembram a pintura maneirista. Entretanto, esse tipo de recurso não apresenta a mesma elegância.




Ficha Técnica: O Milagre de São Marcos


Autor: Tintoretto
Onde ver: Scuola Grande di San Marco, Veneza, Itália
Ano: 1542 - 1548
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 415cm x 541cm
Movimento: Renascimento

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

365 DIAS DE ARTE

A Virgem do Chanceler Rolin, de Jan Van Eyck

A obra apresenta uma minuciosidade magistral. Todo esse detalhismo era necessário porque a pintura estava destinada a ficar em uma pequena capela.

Jan van Eyck (1390 - 1441) foi um pintor flamengo do século XV. Fundador de um estilo pictórico gótico tardio, influenciando em muito o Renascimento nórdico. O artista é visto como o mais célebre dos primitivos flamengos.
Foi um pintor igualmente caracterizado pelo naturalismo, imperando na sua obra meticulosos pormenores e vivas cores, além de uma extrema precisão nas texturas e na busca por novos sistemas de representação da tridimensionalidade, ou seja, a perspectiva.
Porém, não recorria com tanta frequência à perspectiva, pintando a madeira em que concebia seus quadros de branco, o que concedia à pintura um excepcional brilho e um ligeiro efeito de profundidade. A madeira ressequida era também polida. Dizem que o artista era muito inovador e até um pouco atrevido para a época. Inventou a tinta a óleo com secagem rápida e em 1425 casou-se com a Infanta de Portugal D. Isabel.
O trabalho hoje apresentado, foi encomendado por Nicolas Rolin, chanceler do Ducado da Borgonha, retrata a Virgem coroada por um anjo pairando sobre si, enquanto ela apresenta o menino Jesus para Rolin. A cena se desenrola dentro de um espaçoso alpendre de estilo italiano, com rica decoração de colunas e baixos relevos.
A paisagem ao fundo se assemelha a uma cidade com um rio e possivelmente é Autum, cidade natal de Rolin. Nela são retratados palácios detalhados, igrejas, uma ilha, pontes e torres, montes e campos, todos sujeitos a uma luz uniforme.




Ficha Técnica: A Virgem do Chanceler Rolin


Autor: Jan van Eyck
Onde ver: Louvre, Paris, França
Ano: 1435
Técnica: Óleo sobre tela
Movimento: Gótico Flamengo