Autorretrato como A Pintura, de Artemísia Gentileschi
O olhar da mulher, que se inclina para aplicar tinta na tela, sugere uma concentração intensa. |
Artemísia Gentileschi (1593 - 1652/1653) foi uma das primeiras artistas mulheres a alcançar reconhecimento no mundo dominado pelos homens de arte pós-renascentista. Pintou grandes cenários históricos e religiosos, algo que somente era feito por homens e as mulheres eram limitadas a pintura do retrato e de apenas posar. Em Roma recebeu seu primeiro treinamento de seu próprio pai "Orazio Gentileschi" e foi rejeitada pelas academias de arte. Continuou seus estudos em arte com seu pai e um amigo denominado Agostino Tassi. Em 1612, seu pai entrou com uma ação contra Tassi por ter abusado sexualmente de sua filha (estupro) e o julgamento foi muito divulgado na época durando sete meses. O acontecimento torna-se tema central de um polêmico filme francês lançado em 1998, dirigido por Agnes Merlet que narra o trauma do estupro e seu impacto na pintura de Artemísia. Suas representações gráficas foram tentativas de catarse e cheias de simbologia para lidar com a dor física e psíquica. Sua heroínas na arte geralmente são mulheres poderosas, exigentes em vingar de seus malfeitores masculinos e seu estilo é fortemente influenciado pelo realismo dramático e marcado por "chiaroscuro" (luz contrastante e escuro) observados nas obras de Caravaggio.
Na obra de hoje, o olhar da mulher que se inclina para aplicar tinta na tela, sugere uma concentração intensa. Sua pose cria uma forte diagonal no quadro. A imagem é adequadamente poderosa para representar a pintora do século XVII, uma personalidade que alcançou sucesso contra todas as chances num mundo praticamente masculinizado.
No entanto, a pintura é bem mais que um autorretrato e pretende mostrar também uma representação da arte da pintura. Desde meados do século XVI havia na arte italiana a tradição de pintar a mulher como a personificação da pintura, assim como das artes irmãs da escultura e da arquitetura.
O quadro foi registrado primeiro na coleção de Carlos I e Artemísia provavelmente o pintou quando estava em Londres, trabalhando em sua corte.
3 detalhes de "Autorretrato como a Pintura" se destacam:
1 - Mangas enroladas
Os pintores da época gostavam de destacar o lado intelectual de sua arte. No entanto, o braço forte de Artemísia parece sugerir que, numa profissão predominantemente masculina, ela não tem medo do trabalho físico que o ofício demanda.
2 - Rosto e cabelo
O rosto bonito, porém severo, da pintora é coroado por uma massa de cabelos desordenados. O penteado é parte de uma imagem padrão da pintura - representada pela figura feminina nas obras de arte - e mostrava a "fúria da criação".
3 - Paleta e pincéis
Na mão esquerda a pintora segura uma paleta e pincéis. A forma vagamente indicada sob a paleta talvez represente a pedra em que os artistas costumavam moer as obras primas para fazer as tintas. Seu trabalho envolvia, além da elevada inspiração, um artesanato trabalhoso.
Ficha Técnica: Autorretrato como a Pintura
Autor: Artemísia Gentileschi
Onde ver: The Royal Collection, Londres, Reino Unido
Ano: 1638 - 1639
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 96,5cm x 73,7cm
Movimento: Barroco
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